Desde
que ingressei na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em 1985, como
estudante de jornalismo, e em 1993, como professor, que ouço a mesma cantilena
de que há um pacto de mediocridade na universidade brasileira: estudantes
fingem que aprendem e professores fingem que ensinam. Há, em um jogo desses, no
mínimo, “leveza” de caráter de ambas as partes. E quando, em uma universidade,
isso é regra, como pensar em mudar a sociedade? Irritam-me profundamente as
pessoas que relevam comportamentos pouco éticos dentro da universidade com o
argumento de que ela (a universidade) é um espelho da sociedade. Trata-se de argumento
pouco crível. Acima de tudo porque não podemos aceitar que a sociedade seja
pouco ética e aceite pequenos deslizes. Ainda assim, se isso for verdade, cabe
à universidade ser o lócus do sonho de que algo pode ser feito para melhorá-la
(a sociedade). Há, ainda, nesse submundo dos pequenos delitos, artigos em
dupla, trio e quetais feitos apenas por um, mas, com a assinatura dos demais. “Combinações”
do tipo: eu publico na sua revista você publica na minha, eu te cito, tu me
citas e por aí vai. Os defensores da prática argumentam que, com a cobrança
produtivista implantada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes) seria impossível cumprir todos os critérios. Pergunto: regras
que nos obrigam a praticar pequenos delitos acadêmicos devem ser seguidas? Não
seria mais correto lutar para que regras com essas sejam mudadas? Uma boa meta,
portanto, para nós, das universidades brasileiras, é dizer um “NÃO” bem grande
à mediocridade. Talvez seja utopia sonhar com uma universidade que ajude a
mudar o mundo (para melhor). O que seria da vida, porém, sem que se pudesse
sonhar? Prefiro manter o sonho de uma universidade na qual a prática da
honestidade acadêmica seja a regra.
Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei
aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!
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