quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O mito da neutralidade em Ciência


Perdura há tempos, por isso é tradicional, a ideia de que a Ciência é neutra. Na academia, então, o método é a figura central dessa pseudoneutralidade. É como se o método fosse capaz de promover a “limpeza” necessária à Ciência para fazer dela (a Ciência) a mais tradicional e respeitada das ideologias. Não só neutra, a Ciência tradicional é, em tese, objetiva. Essa objetividade do método tradicional sustenta-se não na relação, mas, no distanciamento entre o sujeito e o objeto de pesquisa. Para ser neutra e objetiva, portanto, a Ciência (tradicional) não admite “proximidade” entre sujeito e objeto. É como se, na pesquisa, o autor (pesquisador) tenha de usar luvas para não ser contaminado pelo objeto pesquisado. É a esse mito da objetividade e da neutralidade na Ciência que denomino de assepsia. A criação do mito do método cartesiano, por ser de René Descartes, termina, ao final de tudo, por legislar em favor da Ciência como a “ mais objetiva das tradições”. Na sociedade atual, práticas científicas são consideradas exatas, ou seja, corretas, pelo uso do método, mas, práticas religiosas, por exemplo, são apenas questões de fé. O método, portanto, torna-se o bastião, o protetor, a garantia da “infalibilidade” da Ciência. Há, no entanto, uma apropriação desse discurso da neutralidade e da objetividade por parte do Capital, logo do Capitalismo, para legitimar o próprio capitalismo como se a Ciência (por consequência os cientistas) fosse a única tradição a ser respeitada na e pela sociedade. Há que se contestar, principalmente no ambiente acadêmico, essa unicidade, neutralidade e imparcialidade da Ciência como forma, inclusive, de tirá-la desse patamar de mito e aproximá-la definitivamente da sociedade. Em nome da Ciência, já se praticaram atrocidades inaceitáveis. Usar a Ciência como suporte para a manutenção do status quo, inclusive dentro da própria academia, é o tipo de prática que não se pode aceitar. Admitir a pessoalidade do cientista e a “relação” sujeito e objeto, ao invés do distanciamento é um caminho que a “nova Ciência” defende. Talvez não seja o ideal, mas, não percorrê-lo é um indicador da própria estreiteza do olhar.

Se você ainda não leu a “Carta aberta ao secretário Sérgio Mendonça”, cliquei aqui, leia e replique. Todos precisamos refletir sobre o problema. Juntos!

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