segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A retenção que destrói a universidade pública

De um lado os mais radicais dos sindicatos dos docentes tratam o problema como se fosse uma conspiração do Governo Federal com o fim de privatizar de vez a universidade pública brasileira. Do outro, reitores e reitores ficam sem saber como enfrentar o problema que, se visto ao pé da letra morta dos números é uma prova cabal de ineficácia. Não acredito em "teoria da conspiração" por parte do Governo Federal. Tão pouco diria que reitores e reitores, bem como suas equipes, são ineficazes. Tenho uma convicção: a retenção (e seus variantes o abandono e o jubilamento) destrói a universidade pública brasileira. E nós, professores e professoras, como a nossa visão estreita sobre o processo de Educação, somos os maiores predadores da instituição na qual trabalhamos. Não é mais possível a visão preconceituosa, tacanha e tão antiga que cheira a mofo, de que o estudante tem de vencer série por séria, período por período, semestre por semestre, para poder "se formar". Acreditar na homogeneidade das turmas, da formação, é um erro crasso. E um dos fatores que mais interfere na retenção. Não permitir que os estudantes "adiantem" seus cursos é outro erro ainda maior. Investir em cursos longuíssimos, em pré-requisitos absurdos, e uma carga horária em sala de aula aviltante são demonstrações de que o problema não é do Governo Federal nem dos reitores e reitoras. É nosso. É da nossa atuação como professores e professoras. É da nossa visão extremamente estreita do processo de aprendizagem. Permitir que se acelerem os cursos não tem nenhuma relação com "deixar passar à vontade". Temos de ser criativos, encontrar novas formas de avaliar o conhecimento que não sejam meras "provas". Ou mudamos a forma de olhar o processo de aquisição de saberes ou não teremos mais condições de jogar para o Governo Federal ou para as administrações superiores um problema que é nosso: de cada 10 estudantes que ingressam em uma universidades brasileira, três, no máximo quatro, se formam. Os sete ou seis restantes ficam retidos, abandonam ou são jubilados. O máximo que podemos dizer é que a ineficácia pode ser dividida. Podemos, no entanto, fazer muito para mudar esse quadro vergonhoso da universidade pública brasileira.


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