terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O silêncio dos dissidentes: reputação da Ciência preservada


Polêmico no livro “Contra o Método”, quando chegou a ser chamado de anarquista, Paul Feyerabend, deveria ser lido e relido em todas as universidades por ser instigador. Por tentar trazer de volta o espírito crítico à própria Ciência. No livro “A Ciência em uma sociedade livre”, ele não deixa a polêmica de lado. Muito menos o espírito instigador: “A unanimidade é muitas vezes resultado de uma decisão política: os dissidentes são suprimidos ou permanecem em silêncio para preservar a reputação da Ciência como fonte de conhecimento confiável e quase infalível. Em outras ocasiões, a unanimidade é resultado de preconceitos compartilhados...”. [...] Assim, mais uma vez, a unanimidade pode indicar uma redução de consciência crítica: a crítica permanece fraca enquanto apenas uma opinião está sendo considerada. Esta é a razão pela qual uma unanimidade que depende apenas de considerações “internas” acaba sendo errônea.
Tais erros podem ser descobertos por leitos e diletantes, e muitas vezes foram realmente descobertos por eles. Inventores construíram máquinas “impossíveis” e fazem descobertas “impossíveis”. A Ciência progrediu a pessoas alheias a ela ou cientistas com formação pouco comum. Einstein, Bohr e Born eram todos diletantes e o disseram em inúmeras ocasiões. Schliemann, que refutou a ideia de que o mito e a lenda não têm conteúdo factual, começou a vida como um homem de negócios bem-sucedido; Alexander Marschack, que refutou a ideia de que homem da Idade da Pedra era incapaz de pensamentos complexos, era um jornalista. Robert Ardrey era dramaturgo e veio para a Antropologia em virtude de sua crença na íntima relação entre Ciência e poesia. Colombo não tinha educação universitária e teve de aprender o latim bem tarde na vida. Robert Mayer sabia apenas as linhas gerais da Física do início do século XIX. E os comunistas chineses dos anos de 1950, que obrigaram a Medicina tradicional a voltar para as universidades e com isso começaram linhas de pesquisa bastante interessantes no mundo todo, tinham apenas um pequeno conhecimento das complexidades da Medicina científica. Como isso é possível? Como é possível que o ignorante ou mal informado possa ocasionalmente ter melhor resultado que aqueles que conhecem uma disciplina a fundo?
Uma resposta está relacionada à própria natureza do conhecimento. Todo conhecimento contém elementos valiosos ao lado de ideias que impedem a descoberta de coisas novas. Tais ideias não são simplesmente erros. Elas são necessárias para a pesquisa: o progresso em uma direção não pode obtido sem bloquear o progresso em outra. Mas a pesquisa naquela “outra” direção pode revelar que o “progresso” conseguido até então era apenas uma quimera. E pode solapar seriamente a autoridade daquela área como um todo. Assim, a Ciência precisa tanto da intolerância que coloca obstáculos no caminho da curiosidade sem limites e da ignorância que ou desconsidera os obstáculos ou é incapaz de percebê-los. A Ciência precisa tanto do especialista quando do diletante”.
No livro “A aventura da universidade”, o hoje senador Cristóvam Buarque (PTB-DF) faz críticas contundes às universidades, diz que elas precisam se aventurar mais e diz que as grandes descobertas da humanidade não passaram pelas universidades. Em várias postagens tenho dito que Steve Jobs, Bill Gattes e Mark Zuckerberg, para se tornarem bem-sucedidos, tiveram de abandonar a toda-poderosa (e considerada a melhor do mundo) Universidade de Harvard. O próprio Paul Feyerabend, critica a hegemonia da Ciência, diz que ela se aliou ao Capital para legitimar o capitalismo como a única saída para a humanidade. Para ele, a Ciência é uma tradição, mas não é a única forma de “verdade”.

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