terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Título de doutor deveria ser validado a cada 5 anos


Imaginem o espanto dos presentes, em pleno auditório da Cásper Líberto, Avenida Paulista, quando um desconhecido, nascido no Acre, criado no Amazonas, pede a palavra e diz que tudo aquilo é uma bobagem e que o título de doutor deveria ser renovado a cada cinco anos?.Pois bem! Defendi essa tese em um seminário (cujo nome não me lembro), em São Paulo, na Cásper Líbero, pouco tempo após ter chegado a cidade para cursar Mestrado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (Usp), em 1996. As reações foram das mais variadas, inclusive aquelas vazias de conteúdo, mas transbordando de raiva, a insinuar que eu só defendia aquela posição por ainda não possuir o título de doutor. Hoje, nove anos após defender minha tese e sem nenhum receio de refazê-la a cada cinco anos, mantenho a mesma posição sobre o assunto com uma clareza ainda maior. Principalmente após ler “A Ciência em uma sociedade livre”, de Paul Feyerabend, lançado pela Editora da Unesp. Nele, entre tantos temas polêmicos relacionados à Ciência e ao “metodologismo”, o autor diz, com todas as letras: “o parecer de especialistas é muitas vezes preconceituoso, não confiável e precisa de controle externo”. Posso imaginar o que Feyeraben não deve ter sofrido ao lançar “Contra o método”! A reação da academia deve ter sido tão raivosa e ruidosa quanto foi quando propus a revalidação constante do título de doutor. Essa, porém, é uma das obviedades mais evidentes. Se o conhecimento é dinâmico e se renova constantemente, como garantir que um doutor mantenha o mesmo desempenho se defende uma tese, baseada em um “recorte epistemológico”, em alguns casos, produz no máximo dois artigos científicos por ano? E se levarmos em conta que, na estrutura de financiamento das universidades brasileiras, os doutores são obrigados a se envolverem (ainda que, algumas vezes apenas emprestem o nome) em inúmeros projetos institucionais para garantir recursos financeiros? Pode parecer esdrúxula, atinge frontalmente a “zona de conforto” da maioria, mas, não duvidem, chegará o dia em que a sociedade não aceitará financiar pesquisas “a fundo perdido”. Quero viver para ver!

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