domingo, 22 de janeiro de 2012

A Razão entorpecida pelo exterminismo intelectual


As discussões sobre o SOPA (Stop Online Piracy Act) e o PIPA (Project IP Act), ambos projetos norte-americanos que apresentam regras mais rígidas contra a pirataria parecem estar entorpecidas pelo que Paul Feyerabend, citando Thompson, chamou de exterminismo, no livro “Adeus à razão”, publicado pela editora da Unesp, em 2010. A obra nunca esteve tão atual e fragmentos da introdução podem nos esclarecer sobre alguns argumentos que consubstanciam as discussões equivocadas sobre o SOPA e o PIPA. Vejamos o que ele diz:”As informações são surpreendentemente desinformadas. É verdade que a “cultura” ocasionalmente fica um tanto desorganizada. Mas a tendência não é nada nova e é compensada por poderosas tendências contrárias: as escolas superam, passam às frente ou absorvem outras escolas, cientistas de campos diferentes criam áreas de estudos interdisciplinares (exemplo: sinergia, biologia molecular), grandiosos “esquemas unificadores” (evolução, holismo, soluções dualistas do problema mente-corpo, especulações linquistas) embaçam distinções importantes, o cinema a arte informatizada, o rock, a física de alta energia misturam princípios comerciais, inspiração artística e descoberta científicas de uma maneira que nos lembra o que ocorreu no Renascimento no século XV. Há fragmentação, mas há também uniformidades novas e poderosas.
A falta de perspectiva exibida pelos críticos é ainda mais surpreendente. Eles falam da “(!) crise da cultura contemporânea” ou da “cultura mundial”, quando o que querem dizer é da vida acad6emica e artística ocidental. Mas as brigas de professores e as contorções da arte ocidental tornam-se insignificantes quando comparadas à expansão constante do “progresso” e do “desenvolvimento”no Ocidente, o que corresponde à disseminação do comércio, da ciência e da tecnologia ocidentais. Esse é um fenômeno internacional: ele caracteriza tanto sociedades capitalistas quanto as socialistas; ele é independente das diferenças ideológicas, raciais e políticas e influencia um número cada vez maior de povos e culturas. Quase não há aqui nenhum vestígio dos debates e desacordos que tanto exercitam nossos intelectuais. O que está sendo imposto, exportado e mais uma vez imposto é uma coleção de ideias e práticas uniforme que têm o apoio intelectual e político de grupos e instituições poderosas. [...] Decisiva entre esses grupos é uma nova classe, uma elite científico-tecnológica que, segundo alguns autores (Daniel Bell e John Kenneth Galbraith entre eles), cada vez mais determina o prestígio e o poder. Bakunin (1972, p. 319), que enfatizou a importância do conhecimento científico, também nos alertou contra “o reino da inteligência científica, o mais aristocrático, despótico, arrogante e elitista de todos os regimes”. Hoje seus temores se tornaram realidade. Pior ainda, o conhecimento passou a ser uma mercadoria, sua legitimidade relacionada com a legitimação do legislador: “a ciência parece mais completamente subordinada aos poderes prevalecentes do que nunca e ... está em risco de se tornar um fator importante no conflito deles...”(Lyotar, 1984, p. 8). A elite que administra a comunidade muitas vezes apoio aquilo que Thompson (1982, p. 1ss, especialmente p. 20) chamou de “exterminismo”, uma estrutura de pesquisa abstrata e desenvolvimento tecnológico direcionada para assassinatos em massa. Também Chomsky (1986), bem como os debates sobre a função dos laboratórios nacionais reimpresso no Bulletin of the tomic Scientists, de 1985.” A leitura é esclarecedora e instigante. Recomendo o livro inteiro, mas, se você poder ler esses fragmentos da Introdução já será um bom começo.

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