segunda-feira, 4 de junho de 2012

Os pesquisadores Qualis A e o individualismo que destrói a carreira


Por conta da postagem de ontem, aqui neste espaço, denominada “Escapadas noturnas na educação superior brasileira”, fiquei a “matutar” o que nos empurrou para esse individualismo tacanho, que destruiu nossa carreira de magistério superior e nos transformou na pior remuneração do serviço público federal. É muito provável que esse estado de coisas seja resultado da própria política pública implantada nos governos militares e lapidada, à exaustão, nos governos democráticos, de destruição da autoestima da categoria dos professores (e professoras). Não há espírito de categoria porque ele foi destruído nos governos militares. Todas as conquistas, todos os avanços da Educação Superior do País foram conseguidos à custa de muita luta, muito suor, muitas greves. Já no fim dos governos militares, a estrutura foi modificada para tirar espaços, inclusive físicos, de convivência, de discussão política. Os governos ditos democráticos, mais ainda nos últimos 12 nos, investiram na política do “Estado mínimo na educação”. Por meio de medidas provisórias, decretos, leis e pareceres do Conselho Nacional de Educação, transformaram as universidades públicas em espaço para a “prestação de serviços” dos mais diversos matizes, menos os educacionais. Não tivemos a capacidade de vislumbrar a armadilha na qual estávamos caindo: a da desoneração financeira do Estado. Quando não, o Estado investe, mas, ao invés de fazê-lo na carreira dos professores, o faz por meio de editais e de concorrências fratricidas que levam ao cúmulo do absurdo como o que ocorreu na Universidade Federal do Amazonas (Ufam): um professor surrar o outro por não poder acumular duas bolsas do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor). Programas do Governo Federal, como esses, são criados não com o fim de efetivamente investir na qualificação dos professores da educação básica e do ensino médio, mas, sim, de engordar as estatísticas do Poder Central. Concluídos, a presidente Dilma Roussef poderá tomar os números, encher o peito, como o fez o governador Eduardo Braga, quando anunciou a “formatura” de 7 mil professores, de uma tacada só, feita pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), e dizeer que o Governo Federal “formou” tantos professores da Educação Básica. Semelhantemente ao que fez o presidente Lula, com o Reuni e o Prouni, ao anunciar a “ampliação das vagas” e a criação de novos cursos e universidades. Sabe-se lá Deus à custa de muito sofrimento de professores que foram para os mais distantes rincões do País, seduzidos pelo belo discurso da ampliação, como Pólo de Benjamin Constant, da Ufam, e se transformaram em doentes, zumbis da educação superior, distantes da família, sem prédios, laboratórios e equipamentos suficientes para as aulas básicas. Só para ficar em um exemplo, as aulas práticas do curso de Fisioterapia da Ufam em Coari eram ministradas em piscinas residências, algo reprovável e digno de vergonha. O fato sempre foi escondido de todos para se manter um erro grave da ampliação sem planejamento e sem se dar condições mínimas de funcionamento de um curso e de dignidade aos seus professores e estudantes. Assim foi feita a expansão atual: atabalhoada, desavergonhada e com o fim de aumentar as estatísticas pró-governo do Partido dos Trabalhadores. Esse processo de incentivo oficial ao individualismo fez com que grande parte dos nossos colegas professores (e professores) não se vejam como trabalhadores. Criou-se uma categoria de miseráveis que, no entanto, não se misturam. Para grande parte dos PHDeuses, ser pesquisador, porque nem professores eles se consideram mais, é um privilégio, uma dádiva do estado que, além de elevar a remuneração a um patamar bem acima dos colegas de profissão, os transforma em elite da elite. A luta dessa turma é por publicar em revista com Qualis A, por participar de Seminários e Congressos com seus artigos. Os que lutam por salários e fazem greve são umas “malas” que “nunca tiveram competência para se qualificar”. Nós não podemos parar: devemos cumprir o calendário da Capes. Somos diferenciados, portadores de bolas do CNPq e quetais. Ou seja: a política pública atual criou uma casta de individualistas, pesquisadores, que não gosta nem de ministrar disciplinas nos cursos de graduação e se sente desconfortável em ser da categoria dos professores. Formam uma categoria à parte: a dos pesquisadores. Ao que parece, o Estado obteve sucesso em destruir a categoria dos professores, trabalhadores, por meio do individualismo que destrói o coletivo. Certamente, aos olhos dessa gente, professor que faz greve é professor, talvez, Qualis C.

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